domingo, 6 de setembro de 2009

VELHOS CASARÓES


Solarengos casarões coloniais
De grandes salas e de amplos varandões
Erram por eles sombras ancestrais
Mortos que vivem em nossos corações

No tristonho beiral enegrecido
Nas estátuas de louça ornamentais
Nas pinhas, vasos e abacaxis de vidro
Relembram eras que não volvem mais

Velhas sacadas de gradil graciosas
Escadas nobres de antigos sobradões
Lembranças vagas... evocações saudosas
Enchem de mágua os nossos corações

Na solidez austera da estrutura
Nas acolhedoras telhas do beiral
Lembram velhas mansões e a arquitetura
Vinda lá do velho Portugal

Nobreza antiga dos portais lavrados
Grossos batentes de amplos janelões
Salões forrados de papel floreado
E a solene majestade dos saguões

Pelas salas, alcovas e longos corredores
Os grandes móveis de jacarandá
Cintilam cristais sobre os aparadores
A um canto, a rede franjada de puçá

Nas paredes, em molduras doiradas
Velhos retratos dos antepassados
Os consoles, as marquesas torneadas
E o alto piano de castiçais prateados

É noite. Junto à mesa, à luz do lampião
Sinhá moça vai tecendo o seu crochê
Na doçura do lar, à hora do serão
Sinhazinha a medro abre um livro e lê

A vovó na cadeira se embalando
Preso aos dedos o rosário de capim
Vai rezando, cochilando, dormitando
Velhinha e cansada d'um viver sem fim

Na rede a um canto, a mucama entoa
Uma doce cantiga de ninar
A melodia terna no salão ressoa
Calma! Poesia, e a santa paz do lar

Da cozinha vem o baque compassado
Do pilão socando o bom café
Ouço na sala um espirro prolongado
É o Coronel tomando o seu rapé

Que lindas cenas do viver antigo!
A donas curvadas sobre o seus bordados
Sinhazinhas ariscas a espiar pelo postigo
Esperando amorosamente os namorados

Lares de antanho... cheios de recato!
Belos costumes do viver de outrora
Um viver tranquilo, simples e pacato
Tão diferente do viver de agora...

Poéticas rótulas desaparecidas
Grossas paredes de taipas seculares
Onde as vovós viveram recolhidas
Anjos de guarda dos antigos lares

Tempos de antanho, cheios de poesia
Tempos passados que não voltam mais
Tenho saudade da vida de alegria
No velho sobradão dos saudosos pais

Quando recordo esse passado morto
Rígido, austero, rico de nobreza
Esse doce lembrar me põe consolo
Ao coração tão cheio de tristeza

Escrevi estas rimas em 1953

Anna Nayá Fleury Nogueira – In Mente

Encaminhado por Déa Nayá Joesting Nogueira

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